sexta-feira, 26 de junho de 2015

Sem capa da super-herói. Rasgou-se

Despes a capa, já não te serve. E o que te resta?

A dor e a desilusão de uma confusão maior do que estavas preparado. Os teus gestos infantis mas mal interpretados, as palavras inconsequentes porém ofensivas, o comportamento delirante mas condenável abalou a profundeza de um ser que julgavas ser de rocha. Sólido. Duro.

Agora pouco te apoia, agora em pouco te podes segurar. E não estás habituado a não te poderes agarrar.

Bate a saudade, sim, mas o que queres dizer é que precisas. Como muleta, como amparo. Porque te dá força, carinho e proteção. De ti, dos outros.

Bate o desejo, sim, mas o que queres dizer é que não te aguentas sozinho. Porque a mágoa assalta impiedosamente, a lembrança e o desejo do tempo rematam em ti essa necessidade de não estar sozinho.

Bate o carinho, sim, mas o que quer dizer é que estás carente. De ti mesmo. Das referências que voaram e dos pressupostos que te amparavam.

Bate tudo, até tu em ti mesmo. E esse tempo, essa melodia inexorável e confortável, demora mais a chegar do que é hábito. O purgatório está aí, depois de uma descida aos infernos. E como em tudo, só há um caminho. Duro. Sólido. Mas único.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Ansiedade

Este estado de sobressalto permanente, de quem tem o dia a dia sem controlo. Afinal, não é preciso uma adega de copos para lançar o pé para fora de pé, bastam as horas normais do dia a dia.

Das mensagens que seguem o ritmo de sempre, numa cadência tão ensaiada como confortável - porque aquele é o ponto qb, nada mais - ao passo que não chega. Até aos mails trocados, sob o signo do anonimato aparente.

Da hora da chamada que reflete a marca de um dia, ao aparente desleixo das restantes horas, numa capa de relação que tem muitas pausas. Muitos momentos que não saem disso mesmo, pausas.

São as horas da dúvida. Do temor. Da imaginação sombria. Do desvendar do véu e da sombra do pecado. A reflexão de que tanto preciso como não disto. Da dúvida do que era o não, do conflito do que é preciso.

São os dias seguintes do choque, em profundo silêncio. Reconheço os meus males, expio as lágrimas e agarro aos pequenos sinais que quando chegam, se chegam, são ainda assim o que são: sinais pequenos.

domingo, 14 de junho de 2015

Água do capote

Nem de propósito a chuva regressou em força, num verão travestido de muitas cores. O chapéu voltou a fazer parte, brotou dum sossego a que estaria votado até ao próximo inverno.

Não são esses os desígnios. E são tão estranhos dias fechados na suposta altura mais quente do verão.

Mas como um dia não é representativo, também uma noite não faz o ninho. Faz mossa, inquieta e perturba. Faz regressar os pés à terra, faz compreender atitudes e gestos, dá o mote para entender a água que nos assiste no capote.

Em tempos, seria fácil enxotar a água. Despejá-la aqui e ali, em recipientes distintos e continuar a olhar o dia seguinte. Esse é o caminho mais direto.

Não é o caminho que escolho. Não a sacudo, nem nego que lá esteja, mas tento lidar, para saber até que ponto o seu peso faz-me andar para trás. Pois esse não é caminho que se queira.

Guardo no rosto três marcas que me envergonham. Passarão, como tudo passa. Mas este rubror recorda-me um excesso a que julgava estar imune. Libertinagem, vadiagem, decomposto, destemido e inconsciente. Não estou. E este não pode ser que não o sinal mais claro de que afinal também chove no verão. Como talvez um dia haja um valente sol em pleno inverno.

sábado, 13 de junho de 2015

Sem ilusão

Tenho de me reinventar. Acalmar. Afastar este permanente sobressalto em que me enredei, que me faz ver tudo onde não há nada e me desvia o olhar para onde devia realmente estar. Em mim.

Santos Populares, de tamanha sabedoria, foi a noite que se conhece. Excessos, loucura. Inconveniente, num grupo de inconveniências. Já me devia prevenir e preservitar a boca, assumindo um lado de estilo, de político e tomar conta de mim.

Falta-me esse lado sedutor da calma. O lado que me diz que posso beber mas não posso beber como se amanhã já não houvesse. Falta-me esse lado sedutor do sossego. Partir para a análise donde estou, quem está e do perigo que é exceder-me ou perder controlo de mim mesmo. Falta-me esse lado sedutor da paz. Para evitar a boca do lobo, que procuro docilmente e por lá me entrego.

Não tenho ilusões, consigo entender o porquê destes gestos. O porquê desta linha. Não culpo ninguém que não eu.